FILOSOFIA HELENÍSTICA

PERÍODOS DA FILOSOFIA - FILOSOFIA HELENÍSTICA

 

“Os pensadores do período helenístico preocuparam-se especialmente com a condução da vida humana e com a busca pela tranquilidade espiritual, chamada de ataraxia”.

 

Para melhor compreender as abordagens da filosofia helenística e a postura dos pensadores da época, é importante contextualizar e compreender também alguns dos principais fatos históricos que acompanharam está fase da Filosofia.  O “helenismo” pode ser definido como o período que se estende desde a morte de Alexandre, O Grande até o momento em que a península grega foi anexada por Roma. 

A figura de Alexandre, o Grande é um dos principais traços do referido período. Alexandre foi rei da Macedônia e também notável conquistador, responsável por formar um dos maiores impérios do mundo antigo. Até os 16 anos, recebeu orientações de Aristóteles. Ainda jovem, aos 20 anos de idade, assumiu o trono no lugar de seu pai, Felipe II. Executou uma importante política de expansão territorial que o levou ao domínio de diversas regiões, como a Grécia, o nordeste da África, a Mesopotâmia e a Anatólia até o rio Indo. Conforme menciona Russell (2017, p.134): “Não foi apenas um conquistador, mas também um colonizador. Onde quer que chegasse com os seus exércitos, fundava cidades gregas, regidas nos moldes gregos”. Consequentemente, dominou vários povos, como os persas, gregos, hindus e assírios. Assim, durante este período, houve uma miscigenação de diferentes culturas, como, por exemplo, a notável influência do pensamento oriental na construção das escolas filosóficas ocidentais dessa época. Dessa forma, este contexto conturbado, caracterizado por disputas e domínios territoriais, aliado à disseminação de diversas formas de pensamento, levou os filósofos da época a buscarem um novo foco de pensamento, que se desapegasse ao que havia prevalecido anteriormente: “Surgiram novas perspectivas filosóficas, sem dúvida devido em parte à nova mistura de ideias revolvidas pelo tempo. As superstições orientais cederam à lógica grega. Abriram-se linhas de pensamento totalmente novas”. (GARVEY, James. STANGROOM, Jeremy, 2013, p. 102).

Os pensadores do período helenístico preocuparam-se especialmente com a condução da vida humana e com a busca pela tranquilidade espiritual (chamada de ataraxia), que como consequência, proporcionaria a felicidade.

As principais escolas filosóficas do período são quatro: Epicurismo, Estoicismo, Ceticismo e Cinismo.

Porém, além destas, há outras de bastante relevância, que são o Neoplatonismo, o Neopitagorismo e o Peripatetismo. 

Seguem abaixo, breves e introdutórias explicações sobre as quatro escolas de maior destaque:

Epicurismo

O principal expoente desta escola filosófica foi Epicuro de Samos. Para o filósofo, a busca pelos prazeres moderados é a chave para a paz de espírito (ataraxia). Aquele que é sábio, portanto, deve evitar certos tipos de prazeres que lhe podem ser prejudicais, e deve buscar os prazeres corretos para encontrar a felicidade. Epicuro fundou uma escola que se tornou conhecida como “Jardim”, e nesse local reuniam-se amigos e seguidores.

Resumo da trajetória de Epicuro:

  • 341 a.C: nascimento (Samos)
  • 311 a.C: Estuda em Mitilene
  • 307 a.C: Mudou-se para Atenas
  • 306 a.C: Fundou uma escola em Atenas, conhecida como “Jardim”
  • 270 a.C: Morte

Estoicismo

Esta escola foi fundada por Zenão de Cício. Resumidamente, pode-se dizer que os estoicos acreditavam que há umordenamento cósmico que rege a existência, e que o homem virtuoso deve aceitar viver de acordo com esse fato. A estrutura do pensamento estoicista fundamenta-se sobre a lógica, a física e a ética. O Estoicismo possui três fases:

  • Estoicismo Antigo (300-129ª.C): Zenão de Cítio, Cleanto, Crísipo.
  • Estoicismo Médio (129-50ª.C): Panaécio, Possidônio.
  • Estocismo Romano (30-180 d.C): Sêneca, Epicteto, Marco Aurélio.

 

Ceticismo

A escola mais antiga do Ceticismo inicia-se com o filósofo Pirro. Para os céticos pirrônicos (ou seja, seguidores de Pirro), o homem seria incapaz de formular certezas a respeito da natureza, e por isso, deveria optar pela suspensão do juízo que lhe ajudaria a combater a ansiedade. Houve outra vertente desta mesma escola, chamada Ceticismo Acadêmico, que acreditava que os sentidos são falhos e incapazes de proporcionar um tipo de conhecimento seguro.

  • Pirro: 365/60 – 275/70 a.C
  • Timão: 325/20 – 235/30 a.C
  • Arcesilau: 316/5 – 241/0 a.C
  • Carnéades: 214 – 129/8 a.C
  • Enesidemo: Século I d.C
  • Agripa: Séculos 1 e 2 d.C
  • Sexto Empírico: 160 – 210 d.C

 

Cinismo

Escola marcada especialmente pela figura de Diógenes de Sinope, conhecido como “o cão”, viveu pelas ruas de Atenas levando uma vida despojada, simples e sem se importar com qualquer tipo de convenção social vigente. O filósofo recusava e combatia a fama, a posição social, o dinheiro e o acúmulo de materiais, pois para ele, nenhum destes elementos pode proporcionar felicidade. A palavra “cínico” vem da palavra grega “kynicos” que significa “cão”.

Antes da eclosão destas escolas de pensamento, a Metafísica aristotélica havia sido o principal destaque histórico da Filosofia. Porém, no período helenístico, as buscas mudaram seu foco e centram-se em questões éticas práticas que visavam uma vida confortável e pacífica ao homem, abandonando momentaneamente os esforços metafísicos do período anterior. Ainda existiam resquícios históricos dos legados de Platão e Aristóteles, pois a Academia e o Liceu continuavam a existir, embora tenham sido bastante alterados em relação aos seus passados: “A Academia era dirigida por Arcesilau, que nela introduziu a chamada “Idade Média, desviando-se do intelectualismo de Platão para adotar uma espécie de ceticismo ultrassocrático (…) Strato de Lampsaco, um tanto insípido, foi o líder do Liceu nessa época, tendo presidido seu lento declínio substituindo a investigação filosófica pelo estudo do mundo natural. Durante algum tempo a filosofia de Aristóteles ficou na total obscuridade. Ninguém sabe por quê”. (GARVEY, James. STANGROOM, Jeremy, p. 103, 2013).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

  • GARVEY, James, STANGROOM, Jeremy. A História da Filosofia. São Paulo: Editora Octavo, 2013. Tradução de Cristina Cupertino.
 
  • RUSSELL, Bertrand. História do Pensamento Ocidental. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 2017. Tradução de: Wisdonofthe 

 

                                                                                                                     

“... Mas também vós, ó juízes, deveis ter boa esperança em relação à morte, e considerar esta única verdade: que não é possível haver algum mal para um homem de bem, nem durante sua vida, nem depois da morte, que os deuses não se interessam do que a ele concerne; e que, por isso mesmo, o que hoje aconteceu, no que a mim concerne, não é devido ao acaso, mas é a prova de que para mim era melhor morrer agora e ser libertado das coisas deste mundo. Eis também a razão por que a divina voz não me dissuadiu, e por que, de minha parte, não estou zangado com aqueles cujos votos me condenaram, nem contra meus acusadores. Não foi com esse pensamento, entretanto, que eles votaram contra mim, que me acusaram, pois acreditavam causar-me um mal. Por isto é justo que sejam censurados. Mas tudo o que lhes peço é o seguinte: Quando os meus filhinhos ficarem adultos, puni-os, é cidadãos, atormentai-os do mesmo modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer que eles cuidam mais das riquezas ou de outras coisas do que da virtude. E ,se acreditarem ser qualquer coisa não sendo nada, reprovai-os, como eu a vós: não vos preocupeis com aquilo que não lhes é devido. E, se fizerdes isso, terei de vós o que é justo, eu e os meus filhos. Mas, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. Mas, quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para deus". 

 

 

Trecho da última fala de Sócrates antes de tomar a cicuta (erva, veneno) condenado a morrer injustamente.

 

Apologia de Sócrates - Platão

 

 

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