Antropologia Cultural 

 

Porque a nossa civilização é uma “civilização de consumo”?

 

    Segundo Colin Campbell, o consumo no contexto de nossa sociedade contemporânea e pós-moderna, é um fenômeno que abrange muito além do significado que há nas ações de consumir, usar e comprar coisas. Ele abrange o ser em sua dimensão ontológica e existencial. Para ele, o ato de comprar consiste fundamentalmente na busca de uma afirmação existencial do homem, assim como permite a definição e intensificação de seus gostos e de suas preferências a partir da escolha e classificação que faz dos objetos e das coisas que consome.

    Para Campbell, o atual contexto individualista em que vivemos reforça a importância do consumo como maneira de se afirmar no mundo como indivíduo, de se sentir exclusivo e autêntico, e também como uma forma de se conhecer melhor.

    Na sociedade contemporânea, a demanda do consumidor impulsiona o mercado a produzir mais bens na medida em que os valores e produtos de consumo (como a moda, por exemplo) fornecem os elementos para que se escolha aquilo que considera essencial, mesmo que não seja. Assim também, é preenchido o vazio ontológico do ser na medida em que ele exerce sua liberdade de compra, de escolha, de afirmação, de individualismo, de status e a liberdade de mercado.

    Mas, na medida em que se mudam os gostos para uma intensificação da identidade, as mudanças que fazem com que os indivíduos procurem comprar compulsivamente podem apontar para uma ontologia emocional, ou seja, uma busca de afirmação da realidade e dos sentidos das coisas de acordo com o grau de reação emocional que elas apresentam. Assim quanto mais forte for a reação experimentada, mais “real” será considerado o objeto ou evento que o produziu.

 

Cristiane Garcia Dias dos Reis

 

                                                                                                                     

“... Mas também vós, ó juízes, deveis ter boa esperança em relação à morte, e considerar esta única verdade: que não é possível haver algum mal para um homem de bem, nem durante sua vida, nem depois da morte, que os deuses não se interessam do que a ele concerne; e que, por isso mesmo, o que hoje aconteceu, no que a mim concerne, não é devido ao acaso, mas é a prova de que para mim era melhor morrer agora e ser libertado das coisas deste mundo. Eis também a razão por que a divina voz não me dissuadiu, e por que, de minha parte, não estou zangado com aqueles cujos votos me condenaram, nem contra meus acusadores. Não foi com esse pensamento, entretanto, que eles votaram contra mim, que me acusaram, pois acreditavam causar-me um mal. Por isto é justo que sejam censurados. Mas tudo o que lhes peço é o seguinte: Quando os meus filhinhos ficarem adultos, puni-os, é cidadãos, atormentai-os do mesmo modo que eu os vos atormentei, quando vos parecer que eles cuidam mais das riquezas ou de outras coisas do que da virtude. E ,se acreditarem ser qualquer coisa não sendo nada, reprovai-os, como eu a vós: não vos preocupeis com aquilo que não lhes é devido. E, se fizerdes isso, terei de vós o que é justo, eu e os meus filhos. Mas, já é hora de irmos: eu para a morte, e vós para viverdes. Mas, quem vai para melhor sorte, isso é segredo, exceto para deus". 

 

 

Trecho da última fala de Sócrates antes de tomar a cicuta (erva, veneno) condenado a morrer injustamente.

 

Apologia de Sócrates - Platão

 

 

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